
A QUARESMA E SUAS OBSERVÂNCIAS
Mais do que o Advento em relação ao natal, a quaresma é um tempo totalmente orientado à preparação pascal. Podemos dizer que a Quaresma aprofunda a comunhão na morte de Cristo, como o Tempo Pascal aprofunda a comunhão na vida do Ressuscitado. O ápice é a celebração da Páscoa, no Tríduo Pascal. O Vaticano II no documento Sacrosantum Concilium no nº 109 diz: “Coloquem-se em maior realce, tanto a liturgia como na catequese litúrgica, os dois aspectos característicos do tempo quaresmal, que pretende, sobretudo através da recordação do batismo, ou seja, sua preparação e por meio de penitência, preparar os fiéis para a celebração do mistério pascal, ouvindo com mais abundância a Palavra de Deus e entregando-se à oração com mais insistência”.
Para dar corpo a esta espiritualidade preparatória da celebração pascal, o primeiro elemento a se ter em conta, são as celebrações quaresmais: a missa dominical para toda a comunidade, as missas semanais para um grupo mais restrito e mais disponível, outras celebrações penitenciais, retiros e etc sem esquecer a ação da caridade.
Poderíamos falar também de exercícios de Quaresma ou exercícios de conversão. Trata-se de três exercícios de culto de Deus, já conhecidos no Antigo Testamento e abordados por Jesus no Evangelho de São Mateus (6,1-18): a oração, o jejum e a esmola.
Jesus não condenou estas práticas de culto. Quis, sim, purificá-las da hipocrisia. Muito cedo, a Igreja escolheu esses exercícios como prática de conversão, sobretudo na Quaresma. S. Leão Magno, grande Papa do século V, mostra como essas três práticas atingem de modo profundo os três principais relacionamentos do homem com Deus – pela oração – com a natureza criada, pelo jejum e, com o próximo – pela esmola. Por isso esse Evangelho é proclamado na Quarta-feira de Cinzas, abertura da Quaresma, como um verdadeiro programa de exercício de conversão para os cristãos.
Na virtude de fé, o homem volta-se diretamente a Deus pela oração. Louva-O e O adora. Reconhece-O como o Criador, Senhor e Pai e a si mesmo como criatura e filho. Realiza-se uma conversão, pois pela oração o homem situa no seu lugar, na sua vocação em relação à Deus. E tem mais quando, na Quaresma, a Igreja intensifica a oração, ela celebra o Cristo orante em profunda comunhão com o Pai.
Na virtude da esperança, o homem já participa do Bem Supremo que é Deus. Então os bens deste mundo não o escravizam. Faz uso deles para o bem próprio e do próximo e neles degusta o Bem, que é Deus. Mas muitas vezes acaba escravizando-se aos bens materiais. Aparece, então, o sentido do jejum religioso. Jejuar é abester-se de alimento, tomar uma atitude de respeito e de liberdade diante das coisas, fazer espaço para os outros e para Deus, confiar na providência de Deus.
Por este gesto, que é um rito, a Igreja comemora o Cristo, Senhor da criação e a vocação do homem como Senhor da Criação. Constitui um ato de conversão a Deus através das coisas. Importe, então, viver em atitude de jejum. De quantas coisas podemos jejuar.
Na virtude da caridade, o homem, mulher, somos chamados a sermos profetas, revelando Deus, que é amor e, portanto para ele. É chamado cada um a viver como irmão. Num gesto rito de generosidade, a esmola, ele(a) celebra sua capacidade de doar, de amar, de partilhar, segundo Deus. Celebrar a generosidade de Deus-Criador e do Deus-Salvador.
E o sentido mais profundo da esmola, dar de graça, dar sem querer retribuição, dar em solidariedade, partilhar com o próximo.
Que Deus nos inspire a este bom propósito, na Campanha da Fraternidade e neste grande retiro que é a quaresma. (Pe. Pricilio Jerônimo)
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