SETEMBRO - O MES DA BIBLIA
- por Felipe Aquino: Escritor e Apresentador na TV Canção Nova
Aqueles que leem a Bíblia progridem na vida do Evangelho
Setembro é o mês em que a Igreja celebra a Bíblia; é um tempo para refletirmos sobre a Palavra de Deus e a sua importância para nossa vida. Este mês foi escolhido pela Igreja porque 30 de setembro é dia de São Jerônimo (ele nasceu no ano de 340 e faleceu em 420 d.C). São Jerônimo foi um grande biblista que traduziu a Bíblia dos originais (hebraico e grego) para o latim, que, naquela época, era a língua falada no mundo e usada na liturgia da Igreja.
Os Evangelhos da Bíblia
A Igreja não tem dúvida de que os Evangelhos são rigorosamente históricos. É o que nos diz a Constituição Apostólica “Dei Verbum” sobre a Revelação Divina: "A santa mãe Igreja, constantemente, creu e crê que os quatro mencionados Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem, fielmente, aquilo que Jesus, Filho de Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para a salvação deles, até o dia em que foi elevado" (DV,19). Sabemos que os originais (autógrafos) dos Evangelhos, tais como Mateus, Marcos, Lucas e João, se perderam, dada a fragilidade do material usado (pele de ovelha ou papiro).
Circunstâncias de sua escrita
Os textos da Bíblia começaram a ser escritos desde os tempos anteriores a Moisés (1200 a. C). Escrever era uma arte rara e cara, pois se escrevia em tábuas de madeira, papiro, pergaminho (couro de carneiro). Moisés foi o primeiro codificador das leis e tradições orais e escritas de Israel. Essas tradições foram crescendo aos poucos por outros escritores no decorrer dos séculos, sem que houvesse uma catalogação rigorosa das mesmas. Assim foi se formando a Literatura Sagrada de Israel.
Sua importância para a Igreja
Se não fosse a Igreja Católica, não existiria a Bíblia como a temos hoje, com os 73 livros canônicos, isto é, inspirados pelo Espírito Santo. Foi num longo processo de discernimento que a Igreja, desde o tempo dos apóstolos, foi 'berçando' a Bíblia e descobrindo os livros inspirados. Se você acredita no dogma da infalibilidade de Igreja, então pode acreditar na Bíblia como a Palavra de Deus. Mas se você não acredita, então a Bíblia perde a sua inerrância, isto é, ausência de erro. Esta conclusão nos leva a outra também importantíssima, que é a seguinte: se foi a Igreja que, guiada pelo Espírito Santo, compôs a Bíblia, logo, é ela também a única autoridade capaz de a interpretar segundo o que Deus quis nos dizer de fato.
A melhor maneira de ler a Palavra de Deus
Devemos compreender que a Bíblia é a Palavra de Deus escrita para os homens e pelos homens; logo, ela apresenta duas faces: a divina e a humana. Assim, para interpretá-la bem é necessário o reconhecimento da sua face humana, para depois, compreender a sua mensagem divina. Não se pode interpretar a Sagrada Escritura só em nome da "mística", pois, muitas vezes, podemos ser levados por idéias religiosas pré-concebidas, ou mesmo cair no subjetivismo. Por outro lado, não se pode querer usar apenas os critérios científicos (lingüística, arqueologia, história...); é necessário, após o exame científico do texto, buscar o sentido teológico. A Bíblia não é um livro caído do céu, ela não foi ditada mecanicamente por Deus e escrita pelo autor bíblico (hagiógrafo), mas é um Livro que passou pela mente de judeus e gregos, numa faixa de tempo que vai do séc. XIV a.C. ao século I d.C. É por causa disso que é necessário usar uma tradução feita a partir de originais e com seguros critérios científicos. O mais importante é entender que a verdadeira leitura bíblica deve sempre ter em vista a finalidade principal de toda a Sagrada Escritura: anunciar Jesus Cristo e dar testemunho de Sua pessoa.
Recomendação da Igreja, para uma boa leitura da Palavra de Deus
Para se fazer uma boa leitura da Bíblia, a Igreja nos recomenda ter em mente o que chamamos de cinco sentidos.
1. A analogia da fé – Cada texto está, de certa forma, relacionado com toda a Bíblia e com a fé da Igreja. Não podemos tirar um texto ou um versículo que seja deste contexto, sem que possa haver erro de interpretação. Aqui entra a fundamental importância da tradição e do magistério da Igreja.
2. O sentido da História – Deus é o Senhor da história dos homens e a Sua santa vontade se realiza por meio das vicissitudes humanas. O avançar da história também nos ajuda a compreender a Sagrada Escritura. Jesus mandou observar os sinais dos tempos.
3. O sentido do movimento progressivo da Revelação – É importante notar que Deus, na sua paciência diferente da nossa, foi se revelando lentamente durante 14 séculos e continuou a se revelar durante mais de 20 séculos pelos caminhos da Sua Igreja, através da Sagrada Tradição (transmissão oral, não escrita) que para nós católicos tem o mesmo valor das Sagradas Escrituras.
4. O sentido da relatividade das palavras – As palavras são relativas, nem sempre absolutas. Para compreender o texto bíblico importa saber o que certas palavras significavam exatamente quando foram usadas pelo autor sagrado.
5. O bom senso e senso crítico – também é recomendado; isto é, a nossa inteligência e equilíbrio diante dos fatos. É bom saber perguntar diante de certas interpretações: isto tem fundamento no texto original? Ou são apenas o ponto de vista de alguém em desacordo com o autor sagrado?
Narração dos Evangelhos
Evangelho de Mateus – É o primeiro que foi escrito em Israel e em aramaico por volta do ano 50. Serviu de modelo para Marcos e Lucas. Ele escreveu para os judeus de sua terra, convertidos ao cristianismo. Era o único dos apóstolos habituado à arte de escrever, calcular e narrar os fatos. Compreende-se que os próprios Apóstolos o tenham escolhido para essa tarefa. O objetivo da narração foi mostrar aos judeus que Jesus era o Messias anunciado pelos profetas, por isso, cita, muitas vezes, o Antigo Testamento e as profecias sobre o Messias.
Evangelho de Marcos – São Marcos não foi apóstolo, mas discípulo deles, especialmente de Pedro, que o chama de filho (1Pe 5,13). Foi também companheiro de São Paulo na primeira viagem missionária (At 13,5; Cl 4, 10; 2Tm 4,11). O testemunho mais antigo sobre a autoria do Segundo Evangelho é dado pelo famoso bispo de Hierápolis, na Ásia Menor, Pápias (†135).
Evangelho de Lucas – Lucas não era judeu como Mateus e Marcos (isto é interessante!), mas pagão de Antioquia da Síria (Cl 4, 10´14). Era culto e médico. Ligou-se profundamente a São Paulo e o acompanhou em trechos da segunda e terceira viagem missionária do apóstolo (At 16, 10´37; 20,5´21).
Evangelho de João - Testemunhou tudo o que narrou, com profundo conhecimento. É “o discípulo que Jesus amava” (Jo 21,40). Esse Evangelho foi escrito entre os anos 95 e 100 d.C., provavelmente em Éfeso onde João residia. João não quis repetir o que os três primeiros Evangelhos já tinham narrado, mas usou essas fontes. Escreveu um Evangelho profundamente meditado e teológico, mais do que histórico como os outros. Contudo, não cedeu a ficções ou fantasias sobre o Mestre, mostrando, inclusive, dados que os outros Evangelhos não têm.
Bíblia católica e protestante
A Bíblia protestante tem apenas 66 livros, porque Lutero e, principalmente os seus seguidores, rejeitaram os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico (ou Sirácida), 1 e 2 Macabeus, além de Ester 10,4-16; Daniel 3,24-20; 13-14. A razão disso vem de longe. No ano 100 da era cristã, os rabinos judeus se reuniram no Sínodo de Jâmnia (ou Jabnes), no sul da Palestina, a fim de definirem a Bíblia Judaica. Isso porque, nesta época, começava a surgir o Novo Testamento com os Evangelhos e as cartas dos Apóstolos, que os Judeus não aceitaram. Nesse Sínodo, os rabinos definiram como critérios para aceitar que um livro fizesse parte da Bíblia, o seguinte: deveria ter sido escrito na Terra Santa; escrito somente em hebraico (nem aramaico e nem grego); escrito antes de Esdras (455-428 a.C.); sem contradição com a Torá ou lei de Moisés. Esses critérios eram nacionalistas, mais do que religiosos, fruto do retorno do exílio da Babilônia. Por esses critérios, não foram aceitos na Bíblia judaica da Palestina os livros que hoje não constam na Bíblia protestante, citados antes.
http://www.cancaonova.com/portal/canais/entrevista/entrevistas.php?id=921
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