JUSTIÇA E PAZ SE ABRAÇARÃO
por Rafael Faria*
por Rafael Faria*
“O pior analfabeto é o analfabeto político”. Ainda lembro da Campanha da Fraternidade de 1996. Em um dos finais de semana entrei todo maltrapilho, quase no final da missa, empurrando uma carriola e declamando o texto de Bertold Brecht. Era uma crítica que agradou a muitos, mas me rendeu alguns puxões de orelha das pessoas mais tradicionalistas. As primeiras palavras do texto são exatamente as que usei para abrir este parágrafo.
Brecht, dramaturgo alemão, escreveu o poema no começo do século passado. A Campanha da Fraternidade foi da metade da década passada. De lá pra cá, pouca coisa mudou. Mas o texto continua atual. Talvez esquecido, tal como muitos dos direitos adquiridos pelo cidadão nestas centenas de anos de história. E pra piorar, o time das pessoas mais tradicionalistas ainda existe.
São elas que pensam que fé e política não podem se encontrar. Mas são elas que também reclamam do preço do remédio, da rua esburacada, do ônibus velho, da falta de médico no postinho de saúde e de mais oportunidade de emprego.
É um ciclo viciante. Parece sem fim. Começou, pelo menos aqui no país, no processo de colonização e se acentua cada vez que as urnas nos chamam para o voto e ignoramos a necessidade de renovação e de apostar em pessoas que realmente possuem propostas e ideias capazes de garantir, pelo menos, um pouco de melhorias. Afinal, não dá pra acreditar em “salvador da pátria”. Super heróis existem na ficção. Impossível arrumar tudo de uma hora para outra.
Dizer que não gosta de política e que odeia políticos é negar seu próprio contexto social. Todos nós somos políticos. A dona de casa age politicamente quando tenta agradar marido e filhos no almoço, fazendo malabarismos para oferecer a refeição ao gosto de cada um. No campo de futebol o menino é político ao dividir o time.
É a política que organiza nossa vida em sociedade. Essa ciência surgiu na Grécia Antiga. A cidade de Athenas crescia e viu a necessidade de se moldar de forma organizada. Era o princípio da democracia - um regime de governo onde o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos que escolhe seus representantes eleitos.
Pelo conceito acima vemos a importância de cada um na sociedade. O Brasil adotou esse modelo. Só não basta exercer o direito ao voto a cada quatro anos e esquecer de participar com cobranças e questionamentos. Políticos eleitos nada mais são do que empregados escolhidos pelo povo para administrar do município ao país. E se eles são empregados, nós somos os patrões.
Devemos sempre ter o olho aberto, a mente aberta e até mesmo o bom senso para sabermos que nem sempre acertamos em nossas escolhas. E é por isso que o nosso sistema político permite novas escolhas, de tempos em tempos, ou ainda, em casos mais radicais, que os corruptos deixem o poder.
Se o seu candidato a vereador não foi eleito, não importa. Os 11 representantes do povo que lá estão não trabalham apenas para aqueles que o elegeram. Da mesma forma o prefeito. Participe da sessão da Câmara. Acompanhe os atos da Prefeitura. Leia, informe-se e exija.
A fé sem obras é morta. E trabalhar pela melhoria do seu bairro, da sua escola e da sua cidade é uma forma de crescer aos olhos de Deus. É pensar nas gerações futuras e querer fazer desse mundo um lugar melhor para todos. Depende de você o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio.
- Obs: Justiça e paz se abração foi o lema da Campanha da Fraternidade de 1996, organizada pela CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com o tema Fraternidade e Política.
* Rafael Faria é jornalista, cerimonialista, preside a Associação de Imprensa de Araras e trabalha com assessoria politica há 10 anos.
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