por André Pessoa*
O namoro, hoje, tem muitos apelidos... vamos ficar... tá de rolo... amizade colorida... se amarrô... é namoro mesmo... namoro firme, etc. Variam de acordo com o amadurecimento dos jovens pretendentes.
Quando olhamos as relações que travam as crianças desde a pré-escola, nos espantamos quando percebemos que alguns assumem "compromissos" que chegam a manter por meses, o que nos poderia levar a concluir que as crianças destas últimas décadas estão amadurecendo mais cedo do que as dos últimos milênios. Vale a pergunta... estão ou não aptas a namorar?
Alguns filósofos dizem que o amor pode ser dividido em três formas complementares: sexus, eros e ágape. O sexus está ligado às sensações, às carícias, aos beijos, faz a pele arrepiar, etc... Reside na esfera biológica do ser humano, e ligeiramente na afetiva. O eros é o amor lírico, romântico, que faz o coração pulsar forte, que sublima e deseja a companhia de outra pessoa a quem admira e respeita. Reside na esfera afetiva do ser humano, e ligeiramente na alma. O ágape é o amor sublime, desinteressado, de doação, que busca o ideal supremo. Transcende as limitações físico-químicas de nosso corpo, a que estão sujeitos o sexus e o eros. Reside bem em nosso interior, em nossa alma, fortemente arraigado ao dever. O ágape, mas também o eros, nos impulsionam à auto-superação, em busca da dimensão vertical.
O desenvolvimento hormonal das meninas é mais precoce que o dos meninos. Seu interesse pela geração de uma nova vida lhes dá uma perspectiva e ligeiro equilíbrio que os rapazes não vivenciam. A sensibilidade (sexus) está difusa, enquanto o eros se manifesta fortemente. Seus amores tendem ao platonismo... rapazes inalcançáveis, com virtudes imaginárias, fotos de ídolos pregados no espelho, etc...
Os rapazes sofrem um pouco mais nesta fase. O sexus se manifesta fortemente em uma área específica, monopolizando sua atenção. Como nas meninas, a manifestação do eros também existe, mas menos forte e com pé no chão. Têm, por exemplo, algum interesse romântico pelo colega da sala ao lado.
O eros e o sexus, embora de maneira distinta para rapazes e moças, estão inicialmente dissociados. Durante o processo de amadurecimento, aos poucos, vão se aproximando complementarmente. Se o jovem se dá oportunidade, e experimenta uma relação a dois somente no momento adequado, será capaz do ágape e do amor pleno.
Em paralelo, a partir da adolescência, acontece um alargamento interno, com a descoberta de um tesouro... o próprio eu. Passam a estar aptos a fazer amizade, pois têm algo a compartilhar, que é sua vida interior... e somente quem é capaz de ter amigos poderá a vir a ter... muito... muito tempo depois... estrutura para pensar em namoro.
As crianças e os púberes viviam ao sabor de sua emotividade, de seu "querer". Agora a alma, com vontade legítima, conjugando o verbo "dever" em todos os tempos, encontra terreno para se desenvolver. Haverá um amadurecimento adequado se a vontade se fortalece e domina a afetividade, se o homem interior sobrepuja o exterior... e neste sentido os pais devem atuar.
O grande risco que correm as crianças ao "brincar" de namorar, é o mesmo que correm ao brincar com fogo... terminam por se queimar. Sendo o homem interior ainda incipiente, o namoro precoce não segura o sexus, que domina e sufoca o eros, que por sua vez aniquila o ágape. Esvaziado interiormente, o jovem termina por se estabilizar eternamente na instável fase da adolescência. Porque encontramos tantos adultos incapazes do amor pleno e perene?
Alguns estudiosos no assunto recomendam que os rapazes pensem em namorar somente a partir dos dezenove anos de idade, e as meninas somente a partir dos dezoito... e seguramente este namoro não terá tantas denominações e apelidos.
* André Pessoa é pai de seis filhos, Mestrado em Orientação Familiar por Navarra, ministra cursos e palestras de Educação de Filhos desde 1995 / Fonte: http://www.portaldafamilia.org
Nenhum comentário:
Postar um comentário